segunda-feira, 23 de março de 2015

...do Livro dos Abraços

"...A televisão, essa última luz que te salva da solidão e da noite, é a realidade. Posto que a vida é um espetáculo: para os que se comportam bem, o sistema promete uma boa poltrona..."

Eduardo Galeano

sexta-feira, 13 de março de 2015

Epifanias e Catarses

Como deve ter sido para cada pensador o momento em que decidiram pensar? Sabe aquele momento, aquele contexto, aquela situação em que caímos “na real”? Então... Como deve ter sido para Platão, Pirro, Diógenes, Erasmo, Descartes, Flaubert, Balzac, Nietszche, entre outros pensadores tão presentes nas estantes de nossas salas e bibliotecas o exato momento em que rolou a catarse, a epifania perante a vida, onde perceberam que as coisas não eram tão coloridas como pareciam, ou como os contos e os costumes tentavam fazer parecer?

A princípio achamos tudo lindo, nos damos bem com a realidade, a partir do momento em que somos jovens e temos controle sobre nossos corpos, nossas vontades, nossas liberdades. Porque afinal, a “liberdade” quando somos jovens é relativamente simples; é ir daqui ali, de lá pra cá, satisfazer necessidades primárias como comer e beber e por fim se entregar a convivência social a qual se está inserido... Mas depois, quando passamos por um processo traumático de perda, ou por um processo trágico onde percebemos nossa finitude material e corpórea dentro da existência, as coisas começam a tomar tonalidades bem diferentes e distantes as quais pintávamos quando mais novos... certo?

A filosofia nasceu disso, de perdas e traumas, rancores e sentimentos escuros que fizeram os pensadores refletir a respeito das razões as quais nossas vidas estavam expostas a tantos infortúnios e perdas, e que algum problema em nossa psique fazia com que, em nossas fases juvenis, não nos fosse possível enxergar que tudo no plano do "concreto" é um pouquinho mais complexo do que vem a parecer nos primeiros anos de nossa aventura na Terra.

Se chegarmos para um velho e perguntarmos qual seria seu maior desejo na vida, não raramente encontraríamos a resposta: “Desejo ser jovem com a mesma experiência e visão de mundo que tenho hoje”.

Ou seja, o velho ao dizer isso nos imprime a ideia de que existe um conflito grande na natureza humana, onde quando somos jovens não sabemos quase nada, e quando sabemos quase tudo já estamos velhos. Dessa forma fica claro que a natureza de maneira quase perversa tenta nos iludir quando somos adolescentes com a sensação de que obtemos a posse de nossos corpos, que temos o controle perante nossos atos e pensamentos, opiniões, imaginações, devaneios, etc.. E no caminhar da vida essa mesma natureza vai tirando aos poucos algumas vendas de nossos olhos e nos apontando que no fundo não somos donos de nada, que na realidade somos escravos apenas dela mesma, a natureza.

A natureza que nos criou é a mesma natureza que nos espera para o cortejo fúnebre...

A natureza indica com uma simples gripe, um câncer maligno, uma tragédia, um incidente, que somos frágeis demais, que no avançar de nossos anos vamos envelhecendo e ela é para nossas mentes febris e amedrontadas uma força nos pressionando, nos enrugando, nos adoecendo; deixa explícito que se tem alguém sob algum controle das situações, é apenas ela, a natureza... A natureza mantém um controle infame sobre nossas existências, e só percebemos isso quase que tardiamente em tenra idade...

Esse fato, acredito ser o ponto crucial que faz um ser humano querer filosofar, querer pensar mais a respeito da vida... O conflito existencial de onde se gera toda a literatura, toda arte, toda a religião que o homem foi capaz de expressar ao longo das eras como que tentando imprimir no tempo e no espaço de forma desesperadora um dizer, um símbolo, um rabisco a respeito do que vem a ser a sensação de estar vivo, ou de estar preso dentro de uma cela chamada “vida”.

O que é estar vivo? O que exatamente estar vivo representa para o ser humano?

Muitos que se deparam com a percepção filosófica de que a morte é algo presente nas mais ínfimas coisas do meio ambiente, observando biologicamente o tamanho da nossa fragilidade diante do mundo, podem dizer coisas bem amplas e complexas a respeito do fenômeno estreito que é viver pensando nos limites da existência.
Arthur Schopenhauer chegou a escrever coisas sinalizando como evitar o sofrimento avassalador de estar vivo em condutas de renúncia na convivência com os outros dentro do cotidiano; Emil Cioran expressava num de seus títulos a respeito do infortúnio de se estar vivo, descrevendo a vida humana como um acidente da matéria... Alguns outros perceberam que a vida fica menos densa e pesada se procurarmos por mais justiça e igualdade entre as pessoas, outros dizem que a tragédia da vida precisa ser aceita, até amada. Mas nenhum deles foge do assunto, que é o de se estar vivo e isso ser um objeto profundo de análises; vastas e complexas análises...

Para algumas pessoas mais espiritualizadas estar vivo é a oportunidade de poder emanar o tempo todo, estar sempre aceso e energizado, ser pró ativo, pensar positivo de que a vida é simplesmente linda e que boas coisas estão sempre por vir. Mas é necessário sermos sinceros de que são posicionamentos aparentemente ingênuos em alguns aspectos, pois não levam em conta alguns fatores racionais e poéticos a respeito da nossa real condição humana em relação ao universo. Não levam em conta a nossa sensação de abandono em um mundo que, as vezes docemente, ou as vezes acidamente, nos cala, parece não nos ouvir, se impondo como algo vasto mas vazio de sentido as nossas mentes de maneira gélida.

Charles Darwin nos posicionou no mundo com sua ciência a respeito da gênese evolucionista e ancestralidade do ser humano como consequência das próprias imperfeições sistemáticas observáveis na natureza, que coloca os seres vivos em constante competição contingente pela sobrevivência. Isaac Newton nos clareou com sua ciência mecânica a respeito das leis de movimentos, gravitações e corpos materiais, mostrando que nem tudo pode ser colocado sob a ótica mística da realidade.

Dessa forma, talvez acordar para questões profundas da vida na Terra não tenha sido algo muito agradável para nenhum pensador. Nenhum filósofo, cientista, poeta, teólogo, foi enfim verdadeiramente aprazerado pela absorção da situação caótica de ter de lidar em determinado momento com questões a respeito da subjetividade do homem diante de uma atormentadora natureza que parece o querer diminuir enquanto o ilude sobre a sua real circunstância.

Se não houver algo mágico na existência como querem fazer pensar alguns ateus, nossa vida balizada nas perspectivas científica e filosófica parece fadada ao vácuo, ao niilismo, a ausência de qualquer sentido perante a meios e finalidades das "leis naturais" tão discutidas entre racionalistas e idealistas focados em classificações conceituais de "causas e efeitos"...

A Mãe Natureza se apresenta sob uma ótica tenebrosa os alguns seres humanos que em determinado momento "acordaram" para a vida... no fundo todo pensamento tem um pouco de medo embutido nos raciocínios, e filosofar nossa existência é um caminho sem volta..

   E aí, você se assusta com ela? rs


Fernando Ribeiro

segunda-feira, 2 de março de 2015

.Descontrole, Sonhos e Dimensões

...Nem tudo pode ser controlado; certo?
O descontrole quando bate a porta nos atormenta; nos faz pensar, desconstruir... reorganizar...
Muitas vezes uma situação que não podemos controlar só tráz desconforto, fixação, até dor

Mas, estranhamente foi assim...
Tentando ter controle me descontrolei, passei direto, avancei sinais...
Muitos sinais
Olha só... Era pra ser tudo diferente,
fazer contigo aquilo que já havia feito em outras situações e lugares...
Tentar separar corpo da mente, desejo da razão, e por fim dar aquilo que de mais instintivo existia em mim,
Tirar de ti tudo aquilo que de mais insano havia em você

Mas quando tudo girou ao meu redor fui afundando nessa areia movediça,
me despindo, me mostrando, expondo quase tudo o que sou.. rs... quase!!!

Sei lá... O que mais sei é aquilo que eu não sou...
Sei que não sou um Grey, que tenho minhas deficiências em demonstrar o que realmente sinto,
dificuldade em ser gentil o tempo todo, em conduzir as coisas de maneira pragmática, entre outras coisas...
Sei que a síndrome de Peter Pan me explora,
que minha personalidade se rasga entre minhas responsabilidades e minhas paixões,
entre o que quero e o que tenho de fazer...

Mas as horas que passaram naquela noite de sexta-feira geraram coisas estranhas...
Misturas químicas, mágicas; contatos diversos que me elevaram a uma condição explosiva...
Suas reações, a escuridão, as músicas... pequenas mentiras, pequenas verdades
Esconderijos de afetos, ler uma poesia pra você...
O que pairava no ar me entorpecia numa brisa leve que anestesiava toda agudez daquela maluquice
Minhas intensões se intensificaram, geraram tensões, chegaram ao ápice em velocidade extrema...
explodiram...
Chata!!! Você me agitou rs... Não tive como controlar...

Foi inevitável me perder em coisas simples
Em sentir o seu cheiro, provocar suas reações e comportamentos,
tirar de você pequenas revoltas diante dos meus desejos,
fixar no seu olhar...
Sua boca úmida, lenta e flexível...
Inflei ao perceber que tinha coisas escondidas dentro de você,
que existiam sim mãos querendo tatear, a pele ansiando contato... desejando não querendo desejar

E ao penetrar, ao adentrar
Ao quebrar os bloqueios no banco de trás, ao burlar as pequenas regras que nos dividia...
no risco, na veleidade, no suspiro, nas unhas...  a noite se infiltrou em mim,
meus olhos se fecharam,
pensamentos se voltaram para a inocência de vivenciar a ti e o teu semblante
que de sonolência virou fera
que expunha no gemido baixo o propósito, a ânsia, a fome e a sede... o tesão
seu pescoço arrepiando .. As curvas do seu corpo me convidando,

foi intenso, rápido demais...

E agora... Esse gosto em mim
que tatuou em meu ego as lembranças, os carinhos, o cafuné depois do ato
Fazendo meu mundo desandar... me perdendo ao te encontrar
o fluxo perfeito, intenso, ilícito
Desse vício... quero mais, (será que é certo??)
quero o conforto de uma cama pra te jogar, subir e fazer mais, dar mais rs... Expandir
consumir dessa substância nua, e me embriagar...
Rabiscar mais um capítulo dessa história insensata e que me faz voar.... voar...... voar....... voar


Fernando Ribeiro

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Orgulho vs Coitadismo

O que resta ao homem se não o seu orgulho de ser e viver aquilo que é? 

O que o homem faria se não carregasse dentro de si a altivez por ser capaz de não se entregar fragilmente as situações e desagrados que insistem desde o início de sua vida a desatinar sua existência?

Existe um distanciamento muito grande entre os ditames morais de uma sociedade e a prática daquilo que se espera do ser humano frente a tais ditames. Ou seja, a princípio ouvimos e aprendemos que a humildade é o sentimento mais nobre dentro da esfera cotidiana terrestre, e que ela serve para uma manutenção cosmológica e ética da convivência entre os iguais. Porém uma coisa que fica clara, com a experiência humana de frustrações e erros ao longo das relações afetivas, é que só se pode ser literalmente humilde aquele que carrega motivos contundentes de não o ser.

Só podemos presenciar um ato de humildade quando existem fatos e uma esfera consistente e propícia para que a soberba, a vaidade e orgulho possam delinear as posturas envolvidas a caminhos contrários da simplicidade e singeleza tão cobradas pelos códigos de conduta aos quais (in)conscientemente obedecemos.

Uma humildade meramente gratuita, tão facilmente poetizada por teólogos e pensadores das mais variadas vertentes, parece não representar a real e concreta dignidade de um ato. Pois dignidade é uma palavra que ganha corpo e maior significado quando colocada ao lado de situações de lutas, de situações de riscos, ao lado de situações onde existam ações e efeitos conflitantes em que o homem é rendido a provas e testes, onde seu caráter possa ser forçado a questionar-se por dentro da alma a respeito das reais relevâncias de suas escolhas.

Se abster, fingir que nossa alma não carrega tendências a um conjunto de impulsos não condizentes com a moral e as ordens éticas vigentes, é um ato e uma reflexão típica que faz nascer de maneira infantil das "más consciências" uma noção superficial sobre o que vem a ser bom ou ruim. Tal noção essa que acredita piamente que a elevação do espírito humano só pode se concretizar quando não residem em seus pensamentos energias e instintos; que sabemos (não é segredo pra ninguém), compõem antropologicamente nossa constituição fisiológica e mental.

Ao homem que não se deixa elevar de quando em a vez pelo pleno orgulho de suas escolhas, de sua formação cultural e social, pelo senso de honra no fronte de suas perspectivas e que simplesmente pensa de forma equivocada no que tange as responsabilidades e ações dos seres humanos na sociedade, não lhe resta muito além na sua composição metafísica uma flexão balizada entre ingenuidade cândida, mentiras e um pífio instinto de alvura. Ou seja, fica-se entregue como alvo as impertinências da natureza, as maledicências e principalmente pelo seu próprio vitimismo. Vitimismo tal que se harmoniza muito bem com moralismos torpes e senso de achar que o mundo gira sempre só em torno de si.

....Só acredito na humildade daquele que tem bons motivos para não o ser.


Fernando Ribeiro

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

.Caos, desejo e obsessão

Centrada em sua esfera de gostos, orgulho e sonhos
arrisquei dar um passo,
te trazer pro meu mundo e minhas razões
captar seu misticismo
na amplitude do seu olhar, suas palavras e convicções...

A principio clichês e lugar comum...
me perdi sem sentido algum
me prendendo, me envolvendo
criando uma forma de me achegar,
de me embrenhar por um caminho que conduzisse até você

nitidamente a loucura se transfigurando dentro de mim...

e quando vi estava ali
de frente ao cheiro e a entonação...
materialização em cor de pecado e transgressão  
nas horas que corriam dentro de uma noite quente que implicava
fazendo arrepiar e suar na noite que se arrastava...
imprimindo a intenção e a liquidez das sensações
insanamente a flor da pele, ofegante
nessa sua essência incitante
com água na boca e perdido em palavras...

Sentia uma vontade profunda de desnudar tudo!
o que ali nos cercava, e o que nos prendia
desfazer todos os bloqueios tolos de nossas vidas
nossos passados, nossos presentes e nossos porquês..
Tirar sua roupa, beijar seu corpo, te morder
Fazer vir a superfície o instinto escondido por detrás das máscaras,
o apetite ... a vontade e o desejo...
Fazer desaparecer por inteiro qualquer tipo de medo
...só nós e as estrelas, só nós e os gemidos, 
nós e a poesia, nós e a utopia... a rebeldia

Fugir sem pensar... não raciocinar as consequências
Agarrar,
apertar na parede, puxar o cabelo,
acariciar, encostar os narizes

Complexo...  Proibido... Vulgar...

Vagar nesse seu corpo com a língua molhada,
provocar suspiros
Procurar os pontos certeiros, te deixar extasiada
Te levar a céus infinitos
nunca antes habitados, em Sintonia,
jogos, risos e libidos

Diante da covardia e hipocrisia do mundo fazer nascer a coragem
Do risco nascer adrenalina...
Das letras criar cenários,
de você absorver o néctar,
...de nós as fantasias

 ...é, eu sei, loucura, estranheza... caos rs



Fernando Ribeiro

sábado, 18 de outubro de 2014

"...Elogio a Acídia..."

É interessante como dentre os 7 pecados capitais, a preguiça é o mais rechaçado e condenado pelos arautos da pró atividade mecanicista moderna. Pois o fato, é que a preguiça se constitui a mais subjetiva das disposições pecadoras, pois ao tomar conta da alma ela te anula, te isola, te descompromissa, te leva ao ceticismo e ao ócio, a aversão perante a ação propriamente dita, ou seja, não te engendra a fazer o mal a outra pessoa de maneira direta, mas sim indiretamente em relação ao fluxo da sociedade que precisa cada vez mais de executores operacionais dentro da ordem pública e privada...
A preguiça, parece ser mais uma postura do indivíduo consigo mesmo, de esvaziamento das vontades, ganâncias e compromissos do que uma maneira ativa de estar presente nos ambientes.
Diferentemente dos outros pecados que encontram relação direta com os outros seres humanos e que nos leva a encontrar de fato no instinto permissivo o hábito de caráter malévolo [como a avareza, a ira, a vaidade, a gula, a luxúria e o orgulho], a preguiça deveria ser valorizada eticamente diante das truculentas demandas do nosso dia a dia que insiste em nos implantar o compromisso com agendas sombrias do tecido social...
A preguiça enfim, se apresenta atualmente mais como uma dádiva do homem do que dívida perante as proclamações deformistas e niilistas correntes no globalismo das relações.

Fernando Ribeiro
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